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MEMÓRIA E ENGAJAMENTO 

23 de Novembro de 2018 a 7 de fevereiro de 2019

Curadoria: Adriana Rede

Adhemir Fogassa

Alexandre Frangioni

Antonio Henrique Amaral

Claudio Tozzi

Eduardo Srur

Gersony Silva

Jardineiro André Feliciano

Katia Canton

Marcelo Conrado

Nelson Leirner

Neno Ramos

Nu Barreto

A primeira exposição da Galerie Brésil reúne 12 artistas convidados, cujos trabalhos foram escolhidos por sua analogia com questões referentes a memória e envolvimento, participação e comprometimento. O fato é que no Brasil, as artes visuais sempre foram políticas. Não somente como exercício criativo que expande os limites do debate e da reflexão crítica de sua sociedade, mas também como comentarista dos problemas históricos que atravessamos ao longo do tempo.

 

Nos anos 60, 70 e meados de 80, um contexto de governos autoritários influenciou os trabalhos de vários artistas. É possível perceber uma urgência maior em tratar de temas políticos. Foi uma geração que arriscou tudo pelo seu trabalho. Tiveram que desenvolver uma linguagem sofisticada para passar pelos filtros da censura, para poderem falar daquela realidade. O risco calculado deste espaço, fez com que o senso crítico e o bom humor se misturassem, gerando trabalhos críticos e geniais. Como vemos nas obras de Antonio Henrique Amaral, Claudio Tozzi e Nelson Leirner, aqui expostas.

 

Hoje a arte politicamente engajada se expande para questões político-sociais, econômicas, ecológicas, humanitárias, enfim, coletivas.

 

Como nas poéticas dos artistas Ademir Fogassa e Katia Canton que trazem em suas obras expostas aqui a grave questão da moradia, e a mais premente e atual, do pertencimento. Simultaneamente esculturais, cada uma a seu modo, estas obras tem um discurso posicionando conscientemente questões políticas, como o lar e a permanência, e no caso da artista, com forte conotação afetiva. Canton trabalha com o conceito que qualquer sonho só se constrói sob alicerces firmes. Inclui-se o conceito de nação.

 

Os trabalhos de Gersony Silva, de sutil entendimento, por vezes fortes, por vezes sublimes, não somente aborda questões estéticas, mas fazem alusão ao descaso com as minorias, com demandas de saúde, e dificuldade de deslocamento nas grandes cidades.

 

Assim como Nú Barreto, artista nascido na Guiné-Bissau e residente em Paris, que denuncia a situação de sua terra natal, mostrando a realidade das crianças negras de rua, cobertas pelo “Funguli”, que deixa a pele esbranquiçada. Trata-se de uma camada seca, cinzenta, um fungo, que implica em fortes conotações discriminatórias em relação à pobreza. O artista faz uma denúncia político-social. Apesar de não mais residir, leva um alerta social forte ao seu país.

 

Tal qual o ativismo de Eduardo Srur, que passa também por questões sociais, e toma de assalto as educacionais, ambientais, de deslocamento urbano, enfim, coletivas, e escancara a política brasileira quando mostra ao mundo perante o congresso nacional que "Só a Arte Salva”.

 

A arte pode ser uma ferramenta poderosa para nos ajudar a entender nosso mundo, e a tecnologia, que acompanha este momento, permitiu novos diálogos entre conteúdo e forma. O artista Alexandre Frangioni com seu conhecimento tecnológico e também da economia brasileira, traz para seu trabalho Êxodo e outros expostos aqui o fator negativo cultural e social que a política monetária causou no país. Bebendo na fonte dos artistas remanescentes do período da ditadura militar, trabalha com figuras lúdicas, trazendo frescor ao tema.

 

Assim como Neno Ramos, que vem em grande evolução de seu trabalho de pesquisa, onde reinventa a pop art, cada vez mais se voltando a temas sociais e políticos. Iconoclasta, introduz símbolos da história da arte em suas obras, quebrando paradigmas como com a figura de Mona Lisa em Brasília, além de referências aos artistas Roy Lichtenstein e Lucio Fontana.

 

Outra forte ferramenta de memória política, a fotografia, continua mais potente do que nunca. Artistas contemporâneos se apropriam dela como ferramenta e como suporte para desenvolver vários de seus trabalhos.

 

Marcelo Conrado, artista residente em Curitiba, nos traz um trabalho inusitado, imagens manipuladas em conjunto com frases conceituais, frutos de apropriações. Para ele, neste trabalho a arte é uma arma, arma no sentido de aliada, um grito para a liberdade. Com as composições de fotografias cuidadosamente escolhidas e apropriadas de bancos de imagens, em conjunto com frases pinçadas do pensamento popular, os trabalhos de Marcelo nesta exposição retratam fortemente o engajamento político, assim como as questões existenciais.

 

O conceito da fotografia, também apropriado de forma diferenciada nas obras de Jardineiro André Feliciano, jovem artista brasileiro residente em Berlim, explora a possibilidade de uma arte totalmente ecológica. O trabalho de Feliciano, aqui simbolizado por objetos lúdicos em forma de plantas e flores que nos olham estranhamente e nos "fotografam", representam a flora que reage ao nosso olhar. A obra ativa a reflexão e o debate sobre o artificial e as relações de inserção e intervenção do homem com o ambiente natural, pautadas pela interferência e dominação. A filosofia de André Feliciano prega que, após o movimento da arte contemporânea, chegou o momento da Arte Florescentista, incorporando questões ecológicas, sociais, políticas, culturais e educacionais ao discurso de seu movimento, já com seguidores em todo o mundo.

 

A exposição conta com obras produzidas no período de 1972 até 2018. Com um arco temporal tão extenso, podemos observar uma crônica de costumes de nosso país, uma possibilidade de apreciação histórica do tema Memória e Engajamento.

 

E a arte engajada nunca se limitará a responder perguntas, sempre colocará questões.

Adriana Rede, curadora.

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